MENSAGEM DE PÁSCOA À FAMÍLIA EYMARDINA
É tempo do “amor exagerado”, é tempo de Páscoa
O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido,
para prestar atenção como um discípulo.
Ele é meu Auxiliador (Is 50, 4.7).
Caros irmãos e caras irmãs da Família Eymardiana!
Neste momento desafiante da Humanidade, da Igreja, da Congregação e de nossas famílias, com o avanço da pandemia do COVID-19, venho partilhar com cada um de vocês, membros da Família Eymardiana e das comunidades eclesiais onde os sacramentinos vivem e trabalham, uma palavra de comunhão, fé e esperança neste período de afastamento social, de quarentena.
De uma hora para outra, nossa direção, nossos projetos, planos e nossa economia alteraram rotina, ritmos e ritos pessoais, familiares, missionários e sociais. Tudo mudou em fração de dias! E isto tem exigido de nós, de cada um de nós, novas formas de vida, de olhar, de ver, de pensar e de sentir a nossa própria existência, pessoal e coletiva. Começando de dentro de nossas casas e comunidades de fé.
Sozinho, este vírus invisível está pondo em xeque todo um modo de vida conquistado pela sociedade contemporânea, freando nossos hábitos e fazendo repensar nossos valores, questionando-nos: onde estamos pondo o coração? Qual tem sido nossa verdadeira riqueza, nosso tesouro?
Uma verdade brota dessa pandemia: nós não escolhemos esse vírus! Ele sim, nos escolheu, pois quem está adoecendo e morrendo somos nós, os seres humanos. Todavia, nós, os seres humanos, podemos escolher o que fazer com esta pandemia daqui pra frente. E que leitura faremos dela em nossa sociedade? Se quisermos podemos sair deste tempo desafiante à vida humana e à fé muito melhores do que quando fomos conduzidos ao afastamento social.
Por isso meus caros, não queiramos ser os mesmos – pensar, agir, sentir e, até crer, como antes deste desassossego pandêmico – se a humanidade, de uma ora para outra, mudou drasticamente sua rotina, seu ritmo e seus ritos humanos e até religiosos.
Para vivermos este caminho exigente imposto por este flagelo humano, o Tempo Litúrgico em que vivemos na Igreja – Quaresma, Semana Santa e Páscoa – é muito favorável ao reencontro do caminho que queremos seguir daqui em diante.
Este Tempo Litúrgico nos conduz diretamente à maior verdade da nossa fé cristã: aquele que morreu, ressuscitou! Como nos recorda e proclama Paulo, no I Domingo da Páscoa: “Irmãos: se ressuscitamos com Cristo, esforcemo-nos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo” (Cl 3, 1-2). Portanto, deixemo-nos guiar por esta força de vida, por este espirito que nos retira deste cenário de morte e nos faz viver como testemunhas do Ressuscitado, discípulos da Luz que atravessam esta “noite escura”.
Como a vida nos impôs pausa com esta quarentena, um “tempo de retiro” da vida social, por vezes frenética e descompassada, ele torna-se também um tempo de oportunidades e de aprendizado. Por isso, é hora de nos despertarmos dos enganos, das ilusões, dos abismos criados pela humanidade e por nós mesmos, para uma vida nova em Cristo e também por Cristo. Tornarmos novo o que perdeu o sentido na vida exterior em que vivíamos antes.
É hora de cultivar o que perdemos dentro de nós mesmos ou fora, em algum lugar que nem sabemos ao certo “onde”, para desaguarmos na graça da espiritualidade pascal de Cristo ressuscitado que nos chama: “Levanta-te!”, “Coragem!”, ou, “não tenhas medo, eu estou contigo!”
Então, vagarosamente seguiremos, por um tempo, falando das dores da alma, das tristezas e dos medos que nos cercam, andando rumo à direção do reconhecimento do gesto do Mestre ao “partir do pão”. Até lá, já teremos aliviado o coração; teremos aberto os olhos, os ouvidos, firmado os passos no compasso de uma nova vida ressuscitada, para retornarmos à nossa Jerusalém (lugar da comunidade) e novamente rompermos com o “distanciamento social”. Teremos retomado a nossa esperança e a nossa fé de que este tempo de enfermidade viral “vai passar” e com ele teremos aprendido muitas coisas.
Quando esse dia chegar, será um tempo para nos abraçar, recolher o que se dispersou, libertar-nos do que nos enganou e, então, celebraremos com júbilo a Páscoa do Cristo, encarnada na páscoa da gente.
Como parte da Família Eymardiana, para construirmos este tempo futuro, estejamos atentos à qualidade de nossa Vida Fraterna; de nossa Vida Orante e de nossa vida Servidora.
Enfim, irmãos e irmãos, como recordamos à Família Eymardiana e às nossas comunidades eclesiais, “é hora do amor exagerado” de Padre Eymard. É hora de irmos além do mínimo, do dever de nos isolarmos socialmente.
É tempo de amar exageradamente, para curar o outro e a nós mesmos dos lastros de enfermidades deixados por esta pandemia em todas as áreas da vida humana, social e religiosa.
É tempo de renovarmos em nós e em nossas comunidades de fé o “Mandamento Novo do Amor”, instituído na Ceia do Senhor. Este mesmo mandamento que nos impulsiona a ajudar o próximo, aquele que precisa de nós, a encontrar neste tempo de desassossego e de incertezas, o amor compassivo e misericordioso que nos cura de todos os males desta pandemia e de outros males.
Nossa Senhora da Eucaristia, Mãe dos Enfermos, rogai por nós.
Um abençoado tempo de ressurreição, de compromisso com o “amor exagerado”, com o “mandamento novo”. Amém, que assim seja. Feliz Páscoa!.
Pe. Marcelo Carlos da Silva, sss
Provincial da Província NSRA de Guadalupe