Como ser eucaristia nos tempos atuais? Como responder os anseios do homem no tempo que vivemos de maneira suave, provocadora, evangélica e carismática? Dentre um mar de questões que como ondas bagunçam minha existência, estas que abrem este depoimento me deixam inquieto.
A arte sempre me reestabelece como ser humano e como seguidor de Cristo. Isso não foi uma descoberta fácil. Doeu. Até que a compreensão veio: toda expressão artística é fundamentalmente uma experiência religiosa. Por isso é transformadora.
A poesia, o desenho, o teatro, a contação de histórias, o movimento, a música, a oração, o humor e a verdade que carrego no coração se encontraram em uma única expressão: o palhaço. Paulatinamente, fui entendendo que o nariz vermelho me enchia de possibilidades mostrando-me quem verdadeiramente sou: um menino.
Esse menino, de palhaço, e depois de ampla formação, entrou em hospitais, igrejas, creches, escolas, casas de idosos, para encontrar-se mais com Deus. Para seguir mais de perto Jesus. Para amar mais. Para entrar, com singeleza, amorosidade e respeito, em espaços onde uma nova mensagem e com uma linguagem nova esperava pouso.
Palhaço é coisa séria por isso que, da mesma maneira que na liturgia, não cabe palhaçada, exageros e improvisação. É tão séria que só o humor para aliviar o peso de temas impossíveis de serem tratados sem cuidado de mãe.
Recentemente, por um ano, vivi uma das experiências mais profundas do meu ser palhaço. Foi em Bogotá, Colômbia. Eram intervenções em missa com crianças na paróquia sacramentina Corpus Christi. O desafio foi enorme: como fazer com que a Palavra chegasse a todos uma vez que as crianças participavam com seus pais, avós ou tios; cuidadores levavam idosos; jovens e adolescentes também participavam e o bem-estar familiar comparecia com crianças de três casas que eram situadas cerca da paróquia?
Pentecostes nos esperava. A intenção não era necessariamente fazer rir, isso todos fazem, era a de deixar uma semente de amor e esperança em cada coração.
Na última intervenção, foto de apresentação, era uma adaptação de um conto onde um rei gostava muito de ovos e por isso tinha um galinheiro real com galinhas vermelhas, um dia lá aparece uma galinha diferente, ela era de penas negras e botava ovos de formatos e cores diferentes. Refletindo e fazendo uma retrospectiva de tudo o que experimentei, entendi que o palhaço me faz mais humano porque sua finalidade não é a gargalhada e sim a possibilidade de humanizar humanizando-se. Para ser sincero, o palhaço me faz mais eucarístico. E você? O que te torna mais humano e consequentemente mais eucarístico?
p/ Ir. Willian Fausto Lourenço,sss